Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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Na Figura 32, a área 1 foi escolhida devido
ao grande crescimento da apicultura na última dé-
cada (IBGE, 2010), além disso, no Nordeste, ape-
sar de o crescimento da agricultura ser vertigino-
so, ainda existe enorme disponibilidade de áreas
naturais exploradas para a prática apícola e para
a produção de mel (CAMARGO, 2010). Outro fator
preponderante é a presença de grandes áreas de
monoculturas de soja e de os cultivos de melão,
maracujá e caju serem importantes para a econo-
mia da região.
A área 2 também deve sofrer monitoramento
intensivo, pois os estados do Sul do País são tam-
bém grandes produtores de mel. Já a Região Su-
deste, que perde apenas para o Nordeste, é a prin-
cipal exportadora de mel (IBGE, 2010). Além disso,
diversos casos de mortandade de abelhas já foram
registrados nesses estados, sendo que alguns já ti-
veram a comprovação de que os agrotóxicos foram
os responsáveis pelos episódios. A presença maciça
de fazendas apícolas próximas a fazendas agrícolas
agrava essa situação. Na área 2 também se encon-
tram os principais produtores de maçã, café, laranja
e tomate (IBGE, 2010).
Os estados escolhidos para a realização des-
se acompanhamento foram a Bahia, no Nordeste
(área 1), e o Paraná na Região Sul (área 2), maiores
consumidores de agrotóxicos (IBGE, 2010) dessas
regiões. O local de estudo deverá ter 2.400 m² de
área plantada (VAN DER STEEN, 2001), estar livre
de outras culturas próximas e possuir mata nativa
adjacente.
A maioria dos trabalhos toxicológicos realiza-
dos no mundo tem sido feita com raças puras da
espécie,
Apis mellifera
, comumente criada de ma-
neira racional. No Brasil, os trabalhos com o híbrido
africanizado oriundo do cruzamento de
Apis melli-
fera mellifera
e
Apis mellifera
scutelatta (WHITFIELD
et al., 2006) têm mostrado que ele é mais tolerante a
produtos químicos e que precisa ser testado quan-
to a sua suscetibilidade aos produtos fitossanitários
(CARVALHO; ALVES; SOUZA, 2009). Além disso,
as pesquisas envolvendo espécies nativas são ex-
tremamente escassas, o que agrava ainda mais as
condições de proteção desses polinizadores no
País.
As áreas indicadas para o monitoramento da
influência dos agrotóxicos sobre as abelhas são muito
extensas e variam enormemente em suas caracte-
rísticas físicas e na composição da biodiversidade,
além disso, não existem dados disponíveis suficien-
tes para a generalização de parâmetros faunísticos
preestabelecidos. Os parâmetros indicados no item
5 devem ser usados para obter um diagnóstico do
estado de conservação da comunidade apícola a ser
monitorada.
Serão usadas duas espécies de abelhas na-
tivas, uma para cada região. Na Bahia deverá ser
utilizada a
Melipona quadrifasciata anthidioides
Le-
peletier, 1836, e no Paraná a
Melipona bicolor
Le-
peletier, 1836, escolhidas com base nas indicações
feitas pela Professora Favízia Freitas de Oliveira, Co-
ordenadora do Museu de Zoologia (MZUFBA - Ibio/
UFBA) e do Laboratório de Bionomia, Biogeografia e
Sistemática de Insetos (Biosis), também da UFBA.
São abelhas eussociais, de ampla distribuição ge-
ográfica, criadas por um grande número de meli-
ponicultores nas respectivas regiões (SPVS, 2010;
CARVALHO, 2003).
A cultura agrícola empregada será o tomate,
um dos cultivos com maior volume de produção e
consumo no Brasil, onde, anualmente, são comer-
cializados cerca de 1,5 milhão de toneladas (LA-
TORRACA et al., 2008). Tradicionalmente, a pro-
dução emprega grande quantidade de pesticidas,
podendo ser realizadas até 80 pulverizações duran-
te o ciclo da cultura (120 dias) (MELO, 2003). No
levantamento feito pela Anvisa, em 2007, aproxima-
damente 44% das amostras, analisadas pelo Pro-
grama de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos (Para) estavam contaminadas por algum
tipo de agrotóxico.
Como já foi dito no item 2, a deiscência de an-
teras através de pequenos poros apicais (anteras
poricidas) é uma característica marcante em várias
espécies da família Solanaceae, especialmente do
gênero Solanum, ao qual pertence o tomate (
Sola-
num lycopersicu
) (BEZERRA; MACHADO, 2002). Por
causa dessa morfologia floral, o sucesso reprodutivo
da planta depende da chamada buzz polinnation,
que é promovida por diversas espécies do gênero
Melípona (VIANNA; JUNIOR; CAMPOS, 2007), inclu-
sive as selecionadas para o monitoramento.